Sexismus und Sprache im Portugiesischen
Ein Thema, über das sicher viel Unklarheit besteht. Der Text verdeutlicht auch, warum weibliche Formen der Einträge nicht ins Wörterbuch gehören, es sei denn, sie sind schwer zu bilden und daher oft unbekannt.
Fonte: http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2009/...linguagem/
Sexismo na linguagem
Do gramático Claudio Moreno
Uma leitora ficou inconformada com a manchete que encontrou em um grande jornal paulista: "Fulana de Tal foi o quinto juiz suspenso este mês pela Comissão de Arbitragem". Segundo ela, o jornal demonstrou uma indisfarçável atitude machista ao empregar juiz em vez do consagrado feminino juíza. "O senhor não concorda que a gramática do Português tem um viés claramente sexista? Na escola eu nunca me conformei com a regra que nos obriga a dizer que "o menino, sua mãe, sua tia e suas três irmãs foram convidados para o jantar" — em que um simples vocábulo masculino tem muito mais força gramatical que todos os vocábulos femininos reunidos! Qual o problema de usar convidadas? Por acaso o menino, com isso, sofreria algum tipo de humilhação? E alguém se preocupa com a humilhação das mulheres, neste caso? Em pleno séc. XXI, não deveríamos eliminar de nosso idioma esses resquícios patriarcais, contribuindo assim para derrotar a ideologia de desvalorização da mulher?".
Minha cara leitora, não me leves a mal, mas vou discordar integralmente do que dizes — com todo o respeito. Primeiro, nossa gramática não tem o "viés" (palavrinha da moda...) sexista que lhe atribuis; segundo, é impossível mudar essas regras; terceiro, mudanças introduzidas na linguagem não têm o poder de alterar a realidade objetiva; quarto e último, o jornal estava corretíssimo ao usar juiz, e não juíza. Vamos por partes. Em primeiro lugar, essa "supremacia" do masculino que nos leva a usar convidados, e não convidadas, na tua frase (e que faz o dicionário registrar os substantivos no masculino singular — aluno, lobo, prefeito) — essa supremacia, repito, é ilusão. Mattoso Câmara Jr. fez, nos anos 60, a descrição definitiva do sistema de gênero e número de nossos substantivos e adjetivos: o plural é marcado por S, enquanto o singular se assinala pela ausência desse S; a marca do feminino é o A, enquanto o masculino se assinala pela ausência desse A. Sabemos que aluna, mestra e professora são femininos porque ali está a marca; inversamente, sabemos que aluno, mestre e professor são masculinos porque ali não está a marca. Por isso, quando quisermos ser genéricos, podemos usar o singular, masculino (ou seja, o número e o gênero não-marcados): "O brasileiro trabalha mais do que o inglês" (entenda-se: "todos") — e por esse mesmo motivo o dicionário assim registra os substantivos. Paradoxalmente, o gênero que exclui é o feminino: se dissermos que o aumento vai ser estendido aos aposentados, homens e mulheres estão incluídos; se for, porém, estendido às aposentadas, os homens estão fora. Se o jornal escrevesse que "Fulana de Tal foi a quinta juíza afastada do cargo", estaria afirmando que, além dela, quatro outras juízas tinham sido afastadas. Como esse não foi o caso - os quatro suspensos antes dela eram homens -, o jornal teve de usar juiz, que engloba o masculino e o feminino.
As mulheres não devem sentir-se humilhadas por isso; é assim que funciona o nosso idioma. Por que afirmo que essas regras não podem ser mudadas por uma decisão política ou ideológica? Porque, diferentemente das leis que regem um país, das regras do futebol, da convenção de nosso condomínio ou do nosso sistema de acentuação e de ortografia — que são regras de superestrutura, criadas por nós e, ipso facto, modificáveis por nós —, as regras morfológicas e sintáticas do Português estão no nível estrutural, muito mais profundo, evoluindo ao longo dos séculos num ritmo e numa direção sobre os quais não temos o menor controle.
Por fim, estimada leitora, aconselho-te a abandonar essa esperança de que seja possível mudar a realidade apenas pela introdução de alterações na linguagem. Esta crença ingênua (e onipotente) esteve muito em voga nos anos 70, dando origem, inclusive, ao equivocado movimento do politicamente correto. Muitas feministas pós-Woodstock acreditavam que podiam resgatar (que verbozinho enjoativo!) a dignidade da mulher forçando na linguagem a visibilidade do gênero feminino. Se o vocábulo tinha dois gêneros, os dois deveriam aparecer na frase. Até bem pouco tempo, uma ONG brasileira fazia questão de escrever "os eleitores e as eleitoras votaram", "os participantes e as participantes receberão"... Felizmente esta tendência está agonizante, e qualquer pessoa culta, quando escreve "Para o bem de seus filhos, os brasileiros deveriam escolher melhor os candidatos em que votam", sabe que está dizendo "Para o bem de seus filhos (não importa o gênero), os brasileiros (não importa o gênero) deveriam escolher melhor os candidatos (não importa o gênero) em que votam". Agora, imagina só se eu vou ter a coragem de escrever "Para o bem de seus filhos e de suas filhas, os brasileiros e as brasileiras deveriam escolher melhor os candidatos e as candidatas em que votam". Que espanto sentiriam os meus leitores e as minhas leitoras!
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